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A noite não adormece nos olhos das mulheres
A noite não adormece nos olhos das mulheres
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
há mais olhos que sono
onde lágrimas suspensas
virgulam o lapso
de nossas molhadas lembranças.
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
vaginas abertas
retêm e expulsam a vida
donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
e outras meninas luas
afastam delas e de nós
os nossos cálices de lágrimas.
A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
de nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede
de nossa milenar resistência.
(Conceição Evaristo – Em memória de Beatriz Nascimento)
Arquivado em 8 de março, feminismo, mulher
Ser Mulher por Alessandra Terribili
Ser Mulher por Alessandra Terribili
Nas primeiras horas da manhã,
A mulher levantou e foi plantar a vida na terra, pra da terra Tirá-la, pra da terra sair.
Na terra ficou e plantou-se,
Como flor, como Rosas, Margaridas e Violetas,
Com espadas, enxadas e canções,
Ensinando a humanidade a cultivar o futuro que semeavam em tempos bons ou ruins,
Adubado por sangue e suor de mulher, que percorreram seu Corpo sem definir seu destino,
Para extravasar-se e cair no chão,
Arando porvires melhores.
Mulher sabe que o mundo não é agora,
O mundo já foi e vai ser,
O mundo existe para ser transformado em colheitas de luta e de sonhos.
Mulher rompeu amarras,
Livrou-se das garras e das mãos que seguravam seus pés.
Mulher é inconformada, pode mais e vai além.
Mulher não vê o que está ali, vê o que pode estar,
E cumpre o caminho que há enquanto observa cuidadosa
Para encontrar em que lado estará o mato fechado a ser Desbravado na direção do novo dia verde.
Mulher colhe, todos os dias, o que planta.
Desde a aurora da humanidade, conhece quem é, tem olhos cheios de água e de sons.
Choram Marias e Clarices, riem-se Chiquinhas, Claras, Clementinas e Alices.
Mulher não sabe o que é medo porque não teve tempo de aprender,
Enquanto ganhava em seu rosto as marcas do tempo que viu,
O peso profundo de tudo o que somos,
A beleza luminosa de quem vamos ser.
Mulher sai do fogo, da água e da mata,
Mulher amanhece em qualquer madrugada,
Mulher sempre sabe o que ninguém percebeu.
Mulher é a vida que explode em jornadas ingratas,
No pó do caminho,
Na carga inexata da história que vem correndo atrás,
Para onde ela chama.
Não só Amélias e Emílias, são Coras, Adélias, Cecílias Espalhando sementes com versos no ar.
No fim do dia, a mulher cansada sente o corpo pesar,
Mas o olhar é do dia que vai começar.
São Iaras, Dandaras, Heleniras, Lourdes, Luízas.
Despertam prontas para ser o que são,
E sem dó: a mulher é a mão que semeia o mundo melhor.
Arquivado em 8 de março, feminismo, mulher
Antes que voltem a queimar as mulheres, entenda a origem do 8 de março

As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres é Editora
Expressão Popular e custa apenas R$ 18,00. Super recomendamos a leitura!
Antes que voltem a queimar as mulheres, entenda a origem do 8 de março. Todos os anos queimar mulheres numa fábrica de Nova York, inclusive dizem que saia fumaça ou cor-de-rosa ou lilás das chaminés. Tem gente até que diz que teciam tecidos lilases no momento do incêndio.
No entanto, a pesquisadora Ana Isabel Alvarez Gonzalez foi atrás da história e no livro “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres” ela nos conta que a origem do 8 de março nada tem haver com mulheres queimadas em fábrica. Inclusive não existem registros históricos de tal incêndio. A origem do 8 de março tem haver com a luta das mulheres socialistas!
A referência histórica principal das origens do Dia Internacional das Mulheres é a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas realizada em 1910, emCopenhague, na Dinamarca, quando Clara Zetkin e outras militantes apresentaram uma resolução com a proposta de instituir oficialmente um dia internacional das mulheres.
Para conhecer brevemente essa história, leia “Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida” produzido pela SOF ‐ SemprevivaOrganização Feminista
Arquivado em 8 de março, Dia internacional da mulher
Autonomia Econômica das Mulheres Rurais é Brasil Rural Contemporâneo

Nilda Duarte, agricultora ecológica de Capão do Leão-RS.
por Cintia Barenho*
Hoje quando começa a oitava edição da Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária – Brasil Rural Contemporâneo – é a minha vez de trazer a tona o a importância das mulheres rurais para o desenvolvimento brasileiro.
Desde 2004 o Brasil Rural Contemporâneo materializa, em algumas capitais, toda a nossa diversidade, produtividade e pluralidade desenvolvida pela agricultura familiar, agroecologia, assentamentos, povos tradicionais e indígenas. Ou seja, evidencia um Brasil que dá certo preservando e conservando nossa biodiversidade; que dá certo sem monoculturas ou agrotóxicos; que dá certo preservando e valorizando a diversidade cultural!!
No Brasil que dá certo, as mulheres trabalhadoras rurais são elementos-chave para o desenvolvimento rural sustentável, porém, seguem invisíveis.
Nesse sentido, nada melhor que resgatar o projeto de “Formação e Articulação com Mulheres Rurais nos Territórios da Cidadania – ações para ampliar o acesso às políticas públicas do MDA”, convênio da Sempreviva Organização Feminista e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Ou seja, o Governo Federal reorienta suas políticas públicas, através da Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais, mas suas beneficiárias pouco acesso tem às políticas. Nosso trabalho então era ampliar o conhecimento sobre tais políticas, contribuindo e fortalecendo a auto-organização das mulheres rurais.
Se por um lado, ao percorrer o Território da Cidadania da Zona Sul do Rio Grande do Sul, eram concretas as falsas promessas de um desenvolvimento a qualquer custo propagandeado, especialmente, pelos desertos verdes (monoculturas eucaliptos); por outro lado, era evidente a luta e a resistência produtiva desenvolvida nos assentamentos de reforma agrária, pelas famílias agricultoras de base ecológica, pelos pescadores e pescadoras artesanais. Num Pampa pobre, dissimulado por tantos, era cunhada a diversidade necessária para o desenvolvimento rural sustentável.
Conheci mulheres protagonistas da mudança de paradigma, através da agricultura ecológica, que modificaram a vida das suas famílias e comunidades, cuja ação também transforma a vida de muitas crianças que tem acesso à alimentação saudável na merenda escolar.
Vi mulheres reciclando/reutilizando redes de pesca e transformando couro de peixe em lindas bolsas, carteiras, chapéus, bijuterias e vendendo seu trabalho para o Brasil inteiro, até para lojas de grife como elas me diziam.
Lutei com as pescadoras artesanais que exigiam manter um direito conquistado, o do seguro-defeso (desemprego), já que houve uma interpretação de que as pescadoras não trabalhavam na pesca, apenas “ajudavam” aos homens descascando todo o camarão, filetando, tirando carne de siri.
Assisti a “Associação de Mulheres Camponesas: terra, luta e libertação” se constituir pelas mulheres assentadas da reforma agrária, para participar de feiras, acessar as políticas públicas e romper com ciclos de violência vivida por algumas.
Tantas possibilidades sendo desenvolvidas, a autonomia sendo construída com acesso mínimo às políticas públicas. Imagine se não fosse pela falta de documentos civis, desinformação e machismo, já superássemos a desigualdade de acesso das mulheres? Imagine se o acesso fosse integral?
A orientação feminista das políticas públicas para as mulheres rurais é uma realidade. Ainda estão longe de serem suficientes e estão limitadas. Precisamos romper com a visão machista do direito à terra e da produção rural e disseminar, na sociedade, que as mulheres são sujeitos políticos e sociais com iguais direitos e condições que os homens. São elementos centrais para o desenvolvimento da sociedade que queremos viver.
Mas sem dúvida que já se constrói um Brasil que dá certo, um Brasil contemporâneo que é rural e que se orienta por políticas públicas de igualdade de gênero, para a Autonomia Econômica das Mulheres Rurais.
Obs: qualquer dia desse retrato o lado não tão positivo das minhas vivências, o lado maior da invisibilidade das mulheres rurais.
*Cíntia Barenho é feminista e ecologista (talvez ecofeminista) das ruas e das redes, e claro, da Marcha Mundial das Mulheres-RS.
Arquivado em feminismo